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Um Krampus,
companheiro de S.Nicolau na época Natalícia. Em vez de dar prendas, este
ser mitológico castiga as crianças malcomportadas |
No seu Livro dos Danados de 1919, Charles Fort
reavivou o interesse num enigma supostamente paranormal, o qual ocorreu
em 1855, no condado inglês de Devon. Este enigma veio a ficar conhecido
como As Pegadas do Diabo e é também uma das histórias que me
lembro com particular clareza de ter lido na minha infância, no
capítulo dedicado ao paranormal, do livro das Selecções do Reader's
Digest, O Grande Livro do Maravilhoso e do Fantástico.
E de
que trata este enigma? Ao que parece, na noite de 8 para 9 de Fevereiro
de 1855, num dos Invernos mais frios de que havia memória, os habitantes
do condado de Devon acordaram
para um cenário no mínimo bizarro. Um rastro de pegadas de um animal
com cascos, estendia-se por várias milhas. Foram avistadas em mais de 30
localidades diferentes, de tal forma que, assumindo que as marcas foram
feitas por uma única criatura, a mesma teria de ter percorrido uma
distância calculada entre 65 a 160 quilómetros numa única noite. Para
além da extensão, outras singularidades acompanhavam as pegadas.
Desenho feito por uma das testemunhas do evento, publicada pelo The Illustrated London News, em 24 de Fevereiro de 1855. Fonte:Wikipedia
As mesmas pareciam ter sido feitas por uma criatura bípede e não quadrúpede, como
seria de esperar se fosse um animal. Para além disso, as marcas
formavam quase uma linha única, em vez de surgirem alternadamente à
direita e à esquerda. E para acrescentar ainda mais ao mistério, as
pegadas pareciam por vezes descrever padrões impossíveis. Acabavam junto
de muros altíssimos, de montes de feno, e apareciam do outro lado dos
mesmos, como se a criatura tivesse simplesmente pulado sobre eles.
Apareciam do nada no meio dos campos e terminavam abruptamente, dando a
entender que o autor das pegadas tinha simplesmente pousado e em seguida
levantado voo. Foram também reportadas várias pegadas em cima de telhados e nos parapeitos de janelas.
Como é óbvio, não tardou muito para
que as pessoas atribuíssem as pegadas ao próprio Diabo. Mas será que o
anjo caído andou mesmo pelos campos de Devon? Vamos
começar por tentar perceber se existem ainda fontes diretas do
fenómeno, ou seja, manuscritos originais ou outros documentos
pertencentes a testemunhas presenciais.
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Igreja paroquial de Clyst St. George |
A bonita igreja paroquial de Clyst
St. George teve como reitor o Reverendo Henry Thomas Ellacombe, um
campanólogo de elevado mérito e também um reconhecido botânico. Diz-se
inclusivamente que nos jardins da reitoria, o fantasma do Reverendo com a
sua longa batina preta, ainda é por vezes avistado vagueando por entre
as suas plantas... Menciono o Reverendo Ellacombe, porque a ele pertencem os únicos documentos originais e contemporâneos do enigma das Pegadas do Diabo.
São constituídos por cartas, desenhos das marcas, menções a relatos de
testemunhas e mesmo algumas observações curiosas feitas pelo reverendo,
como por exemplo quando afirma que o seu cão ladrou continuamente na
noite em que apareceram as supostas pegadas sobrenaturais. Para além
destes documentos, as restantes fontes em primeira mão dos
acontecimentos, resumem-se às cartas remetidas por testemunhas ao Illustrated London News, e publicadas na íntegra.
Permitam-me desde já que vos indique
a melhor fonte de informação existente na Internet sobre este enigma
ocorrido em Devon, há mais de 150 anos. Trata-se de um trabalho
fantástico, elaborado pelo historiador Mike Dash, e cujo download integral em formato PDF pode ser feito neste link.
Aproveitem enquanto o link existe, pois garanto-vos que não irão
encontrar nada tão completo como este trabalho, cujo título é The Devil's Hoofmarks - Source Material on The Great Devon Mystery of 1855.
Para além de reproduzir na íntegra todos os artigos que surgiram nos
jornais da época, reproduz também alguns dos desenhos e documentos que
estavam em poder do Reverendo Ellacombe.
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Mosaico do Séc. II ou III A.C, encontrado em Caesaraugusta, atual cidade de Zaragoza, retratando os deuses Pan e Eros - Fonte:Wikipedia |
A que conclusões chegou Mike Dash? O
mesmo analisou a história, dividindo-a nos seus aspectos mais marcantes
e analisando cada um deles com rigor. Depois investigou a fundo se as
seguintes características da história eram ou não verdade:
As pegadas estavam realmente espalhadas por todo o condado de Devon? As pegadas foram mesmo encontradas em locais e condições estranhas? As
pegadas eram todas semelhantes? As pegadas estavam bem definidas? Todos
os animais domésticos reagiram ao fenómeno? E por fim, as pegadas eram
na realidade únicas e nunca antes vistas?
Entre outras coisas, Mike Dash
conclui que as pegadas não eram iguais em tamanho, não apareceram todas
no curso de uma só noite e não formavam uma única linha reta que
atravessava todo o condado de Devon. Acima de tudo, mostra com forte
evidência documental, como esta história foi alterada, copiada e
embelezada ao longo dos tempos, afastando-a imenso daquilo que são os
poucos relatos das testemunhas originais. Apesar de tudo, Mike Dash não
tira uma conclusão definitiva sobre a origem do fenómeno. Aliás, como o
poderia fazer mais de 150 anos depois? Foram entretanto propostas mil e
uma teorias, todas elas fora do âmbito do paranormal. Ratos, pássaros,
texugos, cangurus, balões, conspirações, etc. E a sua teoria, qual é?
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